O Ciclo da Páscoa

O mistério pascal de Jesus Cristo, centro do Ano Litúrgico, é celebrado pela Igreja com toda a solenidade e digno cuidado.

A QUARESMA
A preparação dessa grande solenidade é feita durante o sagrado tempo de conversão, a Quaresma, que se inicia com a Quarta-feira de Cinzas e vai até a Hora Média ou Ofício de Noa, para aqueles que rezam as Horas Menores separadamente, da Quinta-Feira Santa. Portanto, o Domingo de Ramos e da Paixão e a primeira parte da Semana Santa ainda são tempo de Quaresma.

Os domingos da Quaresma possuem três ciclos de leituras, mas os temas dos dois primeiros domingos são sempre os mesmos: tentações de Jesus e sua transfiguração, evangelhos narrados conforme o ano A (Mateus), ano B (Marcos) ou ano C (Lucas). Colocando essas duas leituras evangélicas no início da Quaresma, a Igreja deseja colocar os fieis diante dos acontecimentos salvíficos que irão se realizar durante o Tríduo Pascal: cruz (representada pelas tentações) e ressurreição (representada pela transfiguração). O terceiro, quarto e quinto domingos variam conforme o ciclo de leituras. No ano A, uma Quaresma batismal com a meditação dos evangelhos da Samaritana, do Cego de Nascença e da Ressurreição de Lázaro, temática que ocorre na celebração da Vigília Pascal: água, luz e ressurreição. Esse ciclo poderá ser repetido todos os anos, sobretudo se houver catecúmenos adultos para serem batizados na Noite Pascal. No ano B temos uma Quaresma cristológica em que no terceiro domingo é lido o Evangelho da destruição e reconstrução do Templo em três dias (cf. Jo 2,13-25); no quarto, Jesus e Nicodemos falando sobre a teologia do Batismo (cf. Jo 12,20-33). O ano C apresenta uma Quaresma penitencial, sobretudo com a narrativa dos evangelhos em que Jesus convida-nos à conversão (cf. Lc. 13,1-9); do filho arrependido (cf. Lc 15,1-3.11-32) e da pecadora pública (cf. Jo 8,1-11), mostrando-nos que, pelo arrependimento e confissão de nossos pecados, poderemos voltar ao estado de santidade batismal.

SEMANA SANTA
O 6° Domingo da Quaresma é sempre o Domingo de Ramos e da Paixão. Precisamos prestar atenção ao nome desse domingo: não é somente dos ramos, que evoca a vitória e realeza de Cristo, mas também da Paixão. Por isso, o tema da Missa evoca o mistério da cruz: no Salmo 21, nas leituras, na proclamação da Paixão do Senhor e no prefácio.

MISSA DO CRISMA
Na Quinta-Feira Santa, ainda tempo da Quaresma, celebra-se pela manhã na catedral, a Missa do Crisma, na qual se consagra o santo óleo do crisma e abençoam-se os óleos dos catecúmenos e para a Unção dos Enfermos. Essa Missa é presidida pelo bispo diocesano e concelebrada por todo o seu presbitério, pois nela os sacerdotes renovam seus compromissos sacerdotais por ser o dia da instituição do sacramento da Ordem.

TRÍDUO PASCAL
Com a Missa In Coena Domini (“Na Ceia do Senhor”), celebrada no final da tarde ou no início da noite desse dia, tem início o Solene Tríduo Pascal em honra do Cristo morto (Sexta-Feira Santa – primeiro dia), sepultado (Sábado Santo – segundo dia) e ressuscitado (Domingo da Ressurreição – terceiro dia). E esse é o ápice da celebração dessa solenidade anual. O Tríduo Pascal caracteriza-se por três memórias: a mística, a histórica e a escatológica.

A memória mística
A primeira é a memória mística na Quinta-Feira Santa, com a Missa na Ceia do Senhor, que comemora instituição da Sagrada Eucaristia, do sacerdócio ministerial e do mandamento do amor. A antífona de entrada desse dia é sempre tirada da Carta de São Paulo aos Gálatas 6,14: “Nós devemos gloriar-nos na cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo que é nossa salvação e nossa vida, esperança de ressurreição”. Essa antífona já nos introduz no mistério a ser celebrado ao longo desses três dias. A Liturgia da Palavra caracteriza-se pela leitura de Ex 12 (ritual da Páscola judaica, contexto em que Jesus celebrou e instituiu sua Páscoa); o Salmo 115, que evoca o cálice da benção elevado como sinal de salvação; a segunda leitura de 1Cor 11, que é o texto mais antigo sobre a instituição da Eucaristia e que Paulo nos transmite como seu testamento, uma preciosidade recebida dos apóstolos,e o Evangelho de João narrando a cena do lava-pés, que antes de querer mostrar a humildade de Jesus, deseja que fixemos o olhar em seu amor imenso: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim” (cf. Jo 13,1-15), Jesus assumindo a postura dos escravos, deu-nos o exemplo, para nós, também, lavarmos os pés uns dos outros e amar-nos mutuamente como ele nos ensinou. Após a comunhão, o Santíssimo Sacramento é conduzido para uma capela lateral ou outro lugar devidamente preparado, fora do presbitério, para ser adorado pelo povo, em vigília, por algumas horas dessa noite. Essa reserva eucarística servirá para a comunhão dos fieis na celebração da Paixão do Senhor, visto que a Sexta-Feira e o Sábado Santo são considerados dias alitúrgicos, pois neles não se celebra a Santa Missa. Por isso mesmo, o altar deverá ficar desnudo (sem toalhas), o presbitério sem decoração de flores ou tapetes, e as cruzes, se não puderem ser retiradas, devem ser veladas ou cobertas de vermelho até o momento da Vigília Pascal. Isso como sinal da celebração da Paixão do Senhor. Nessa Missa canta-se o Glória a Deus, que é acompanhado com o toque de sinos, os quais voltarão ao silêncio até o canto do mesmo Glória na santa noite de Páscoa.

A memória histórica
Na Sexta-Feira Santa, por volta das 15h ou até mesmo das 19h, mas nunca em horas mais tardias, comemora-se a Paixão do Senhor, ou seja, a memória histórica desse ato supremo de amor de Nosso Redentor pela humanidade. Essa cerimônia não possui antífona de entrada; tudo começa em silêncio, com a prostração dos celebrantes perante o altar despojado, pois diante do mistério da morte de nosso Deus a melhor atitude das criaturas é calar e prostrar-se. A primeira leitura é sempre o quarto canto do Servo de Javé (cf. Is 52-53); esse texto apresenta o Servo Sofredor, mas que sairá vitorioso por sua obediência e confiança no Pai. De rosto desfigurado, não mais parecendo homem, ele será bem-sucedido e receberá a glória. O Salmo 30 que Jesus pronunciou na cruz, é cantado no sentido de confiança total no Pai; nós também devemos abandonar-nos nas mãos de Deus, pois ele sempre virá em nosso socorro. A Carta aos Hebreus (segunda leitura) evoca a liturgia do Templo de Jerusalém, onde, uma vez por ano, o sumo sacerdote entrava no santuário para oferecer sacrifícios de animais que não podiam apagar seus pecados, em favor do povo. Jesus entra, por sua obediência, de uma vez por todas no Santo dos Santos com seu próprio sangue e nos redime dos pecados, é sacerdote e vítima sem mancha. O relato da Paixão segundo João, a testemunha ocular, já que estava ao pé da cruz junto com Nossa Senhora, Maria Madalena e outras mulheres piedosas, atualiza na liturgia os últimos momentos da vida histórica de Jesus de Nazaré, o qual se torna o Cristo da fé.

A Liturgia da Palavra desse dia conclui-se com as orações universais, que apresentam a intenção e em seguida a própria oração dirigida ao Pai. Deseja abranger as grandes necessidades da Igreja: pede, então, pela própria Igreja como um todo, pelo Papa, pelos bispos, pelos padres, pelos leigos, pelos que não creem no Cristo, por aqueles que não creem em Deus, pelos judeus (a quem Deus revelou primeiro suas promessas), pelos enfermos e agonizantes, pelos catecúmenos e pelos governantes.

Terminada essa liturgia e inspirada no diário de Etérea, a celebração continua com a Adoração da Cruz, a qual entra solenemente no presbitério coberta de véu púrpura e ladeada por velas. O sacerdote aos poucos vai descobrindo-a e cantando a antífona: “Eis o lenho da cruz do qual pendeu a salvação do mundo”. A Assembleia, por sua vez, aclama: “Vinde, vinde adoremos” e ajoelha-se; isso por três vezes. Ao descobri-la totalmente, a cruz é colocada sobre o altar, e os fieis, com toda a reverência, vão beijá-la em sentido de adoração àquele que nela foi erguido.

A terceira parte dessa celebração é a Comunhão Eucarística com as reservas guardadas do dia anterior. Os fieis aproximam-se do banquete da Páscoa mesmo nesse dia em que se celebra a morte do Senhor, pois a Sexta-Feira da Paixão já é Páscoa, visto que o Novo Adão desceu à mansão dos mortos para dela libertar nossos primeiros pais e todos os justos do Antigo Testamento, e em sua morte já estabeleceu nosso resgate para sempre.

Essa celebração finaliza com uma oração sobre o povo na qual se pede a Deus que abençoe aqueles que acabam de celebrar a Paixão do Senhor na esperança de sua ressurreição, a fim de que cresça no coração dos fieis a fé verdadeira e que se confirme a redenção. Todos se retiram em silêncio.

O Segundo dia do Tríduo Pascal
O segundo dia do Tríduo Pascal, o Sábado Santo, caracteriza-se pelo silêncio e a confiança na ressurreição do Senhor. O Sábado Santo lembra o descanso de Deus das coisas criadas e o repouso, por um instante, do Deus feito Homem para, em seguida, recriar o universo. Em honra ao corpo de Jesus, que repousa no túmulo, a Igreja, sua esposa, juntamente com Maria, também repousa em um silêncio fecundo de espera, enquanto se prepara para receber o Cristo vencedor da morte. Esse é o verdadeiro sentido teológico e litúrgico desse dia.

A memória escatológica
Segundo Santo Agostinho, essa noite santa é a mãe de todas as santas vigílias. Centrada nos sacramentos da iniciação cristã (Batismo, Crisma e Eucaristia), a Vigília Pascal, memória escatológica do Tríduo Sacro, desenvolve-se toda durante a noite e possui quatro partes. Na primeira, em torno do tema da lua, a Igreja abençoa o fogo novo, símbolo da presença de Deus, luz do mundo, para dele se acender o círio pascal que representa o Cristo Ressuscitado, o qual por cinquenta dias iluminará o presbitério de nossas Igrejas. Essa celebração da luz lembra a presença daquele que ressuscitou rompendo as trevas numa explosão de luz e nos libertando do pecado. O batizado é um iluminado: “Outrora éreis treva, mas agora sois luz do Senhor […}. Ó ru, que dormes, desperta e levanta-te de entre os mortos, que Cristo te iluminará” (cf. Ef 5,8.14).

Nos primórdios esse elemento, o fogo, tinha um caráter meramente prático: como a celebração era de noite, havia necessidade de luz para iluminar e aquecer o recinto. Pouco a pouco esse gesto foi ritualizado. Por isso, tal rito ainda ganha grande força simbólica quando é feita, fora da Igreja, uma grande fogueira.

O círio pascal (depois de configurado a Cristo com a cruz, o alfa e o ômega, a inscrição dos algarismos do ano em curso, porque ele é o começo e o fim de todas as coisas, Senhor do tempo e da história) é conduzido para a porta principal da Igreja e torna-se a fonte de onde os fieis tiram a luz de suas velas, sempre se entoando a antífona: “Eis a luz de Cristo”, com a resposta do povo: “Graças a Deus”, por três vezes sempre em tom ascendente. Ao pô-lo no castiçal, canta-se o Exultet (“exulte”), que é a solene proclamação da Páscoa. Vale a pena meditar parte desse belo canto que introduz a comunidade no mistério celebrado.

Terminada essa celebração da luz, a Igreja detém-se em meditar as maravilhas que o Senhor fez ao longo da história da Salvação através da Liturgia da Palavra, a qual se compõe do seguinte modo: sete leituras do Antigo Testamento, que formam uma unidade, todas elas com seu salmo próprio e uma oração conclusiva rezada pelo sacerdote. São elas: Gn 1, 1-2,2 (criação) e Salmo 103; Gn 22,1-18 (sacrifício de Isaac) e Salmo 15; Ex 14,15-15,1 (passagem dos israelitas pelo Mar Vermelho) e o cântico de Moisés (cf. Ex 15: “O povo em liberdade um canto entoou louvando e agradecendo ao Deus que o salvou (…) dai graças ao Senhor que venceu os inimigos precipitou no mar o cavalo e o cavaleiro (…); Senhor é quem vence as batalhas, o seu Nome é santo, hei de glorifica-lo”); Is 54,5-14 (mostra a relação de Deus com a humanidade como o esposo com sua esposa que, “abandonada” por um tempo, é novamente recebida com toda a sua dignidade) e Salmo 29; Is 55,1-11 (Deus faz com seu povo uma aliança eterna) e Salmo 12; Br 3,9-15.32-4,4 (Deus, a própria Sabedoria, revela-se aos homens, ele é único) e Salmo 18; Ez 36,16-17ª.18-28) (Deus que derrama sobre nós uma água pura e nos dá um novo coração) e Salmo 41.

Terminadas as leituras do Antigo Testamento, a Igreja se prepara para entoar, novamente, o Glória, que calara em toda a Quaresma, e será realizado ao toque solene dos sinos, como que fazendo uma transição para o Novo Testamento. Finalizado o canto do hino de louvor, a comunidade proclama também a Epístola de São Paulo aos Romanos 6,3-11, que trata do Batismo (devemos nos sepultar com Cristo, no Batismo, para com ele ressurgir). É a última catequese para que os catecúmenos sejam batizados e os fieis renovem suas promessas batismais. Em seguida, é anunciado ao celebrante que chegou o alegre canto do Aleluia, que deverá ser entoado três vezes, sendo cada uma em tonalidade mais alta que a anterior e repetido pelo povo; segue-se a antífona própria (geralmente retirada do Salmo 117) e a repetição do Aleluia; então, proclama-se o Evangelho da Ressurreição do Senhor conforme o ciclo de leituras: ano A (cf. Mt 28,1-10); ano B (cf. Mc 16,1-8); ano C (cf. Lc 24,1-12). Segue-se a homilia. Após, tem início a terceira parte da Vigília Pascal: a Liturgia Batismal. Aqui se faz a bênção da água batismal, se houver batismos, ou para aspersão sobre o povo. Feita essa bênção, que será antecedida pelo canto da Ladainha de todos os santos, e com suas antífonas próprias, como, por exemplo: “Vi a água saindo à direita do Templo, aleluia” (texto inspirado na profecia de Ezequiel), os catecúmenos e a assembleia são convidados a renunciarem ao mal e a proferirem a fé. Em seguida, são feitos os batismos, e o povo é aspergido com água abençoada. Nesse momento deve-se entoar um canto apropriado que trate de água, de remissão dos pecados, de Batismo.

Inicia-se, então, a quarta parte dessa solene Vigília: a Liturgia Eucarística. Como de costume, começa com a apresentação das ofertas. Os cantos, a partir daqui, deverão ser da Missa de Páscoa. Nesse dia e ao longo de toda a Oitava da Páscoa, toma-se sempre o Prefácio da Páscoa I. Quando se toma a primeira Oração Eucarística, há mementos (comunicantes) próprios para essa noite e todo o Tempo Pascal.

Após a tríplice oração sobre o povo e a benção final previstas no Missal Romano para esse dia, o diácono ou sacerdote despede o povo acrescentando ao final dois aleluias, por toda a Oitava da Páscoa (“Ide em paz e o Senhor vos acompanhe, aleluia, aleluia!”); por sua vez, a comunidade responde acrescentando dois aleluias (“Graças a Deus, aleluia, aleluia!”).

Terceiro dia do Tríduo Pascal
É o Domingo da Ressurreição que corresponde ao 1° Domingo da Páscoa. Com o Domingo da Ressurreição inicia-se o Tempo Pascal, que é a vivência da festa, e vai se prolongar por cinquenta dias como se fosse um único dia de Páscoa, encerrando-se com a Solenidade de Pentecostes, que é o dom pascal, pois só podemos dizer que Jesus Cristo ressuscitou e é o Nosso Senhor no Espírito Santo. Seguem-se o 2°, 3°, 4°, 5°, 6° e 7° Domingo da Páscoa, a fim de demonstrar que todo esse tempo é dia de Páscoa.

No Brasil, o 7° Domingo da Páscoa dá lugar à solenidade da Ascensão do Senhor e o 8° Domingo desse tempo é sempre dia de Pentecostes. Na segunda- feira que se segue a esse dia, a Igreja retoma a celebração do Tempo Comum.

Do livro: Tempo e cânticos litúrgicos – Pe. Bruno Carneiro Lira, osb

Versículo do Dia

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